Qual é o problema?
Muitas pescarias estão ameaçadas, diminuindo a disponibilidade de peixes que são fonte de alimento e renda para milhões de pessoas.
1 de cada 200 brasileiros pesca em centenas ou milhares de pescarias espalhadas nos rios, praias, lagos, e estuários do Brasil. 90% deles são pescadores artesanais, e responsáveis por cerca de metade da produção pesqueira do país. A falta de pesquisas e investimentos no futuro da pesca ameaça esse modo de vida.
Solução
Muitas pessoas estão trabalhando para resolver este problema. Faltam informações sobre a história das pescarias, o que é essencial para evitar que elas se acabem.
A boa notícia é que existe uma ferramenta valiosa que podemos usar –– ela é confiável e barata. Ela se chama “o saber da pesca” que milhões de pescadores possuem. Usando o saber da pesca, podemos entender o passado das pescarias que hoje carecem de informações e são a maioria no Brasil.
Foto: Enrico Marone
O problema de estudo
Estudos anteriores já mostraram que os pescadores lembram da quantidade de peixes capturados na pesca de 10, 20, e até há 40 anos atrás. O pescador Francisco da Rocha Guimarães, conhecido como Seu Chiquinho, de 105 anos, o pescador mais antigo da Lagoa de Araruama, no litoral do Rio de Janeiro, lembra exatamente o ano da melhor pesca. “Em 1964 foi o ano que deu mais peixe. Camarão então nem se fala. Lembro que foran uns dois mil kilos de tainha numa ‘troiada’ só”, que é como eles chamam uma boa pescaria. “E os peixes tinham 4 kg cada um. Hoje é mais difícil, muitas vezes não passa de 2 kg”, complementa Chico Pescador, filho dele. Essa informação permite entender o passado das pescarias.
Entrevistas com pescadores sobre as suas capturas passadas mostraram que várias espécies de peixes têm diminuído em muito nas últimas décadas. Uma comparação dessas memórias dos pescadores com dados de desembarque de pesca mostrou que a memória dos pescadores era parecida com a informação científica. Existem diversos outros estudos como esse, todos eles mostrando o valor da memória do pescador. Assim, é mais fácil implementar medidas para garantir o futuro da pesca.
O problema é que muitas pessoas desconfiam da memória do pescador, e isso até está no imaginário popular que isso é “história de pescador”. Até que ponto podemos confiar na memória dos pescadores?